Você se comunica com seu filho o tempo todo, não apenas por meio da fala como também através de gestos, carinhos, atitudes e olhares.
Apesar da grande quantidade de informação disponível, hoje em dia, exercer a função de pai e mãe ainda continua sendo um grande desafio para todos. A grande preocupação dos pais é que seus filhos sejam emocionalmente saudáveis, felizes e capazes de enfrentar os desafios da vida.
Antes de tudo, é necessário quando os pais se dispõe a ter um filho, que tenham maturidade emocional, estejam comprometidos desde a gestação e tenham disponibilidade de tempo e afeto;estes questionamentos devem estar claros desde o início. Nós, como profissionais da saúde mental, assinalamos que sem estas condições é quase impossível a criação de um filho emocionalmente saudável.
Outro fator de primordial importância é a comunicação, que deve ser estabelecida entre os pais e a criança desde cedo.
A comunicação é o fator preponderante para a realização da interrelação entre as pessoas de qualquer grupo social e não é realizada somente através da linguagem verbal. Segundo Françoise Dolto “existem diferentes formas de linguagem, tais como: verbal, visual, olfativa, rítmica, gestual, linguagem da cumplicidade, linguagem da alegria, linguagem do sofrimento e de relações intrapsíquicas”.
É através das diferentes formas de comunicação que o afeto é transmitido dos pais aos filhos. É também através desta comunicação que os vínculos afetivos são estabelecidos. Por isso a necessidade do estabelecimento da comunicação desde muito cedo com a criança, desde o ventre materno, para que logo a criança possa fazer o reconhecimento da voz do pai e da mãe.
O quê dizer aos filhos? Mentir vale a pena?
Às vezes os pais pensam: “Eu não vou dizer tal coisa ao meu filho porque ele
ainda não entende”. Puro engano! As crianças entendem logo cedo – e muito bem! – o que os pais querem dizer. Por isso também é necessário tomar bastante cuidado com o que se fala ou como se age diante de uma criança.
Há muitos assuntos dos quais ela não deve mesmo participar, assuntos que podem gerar angústia e ansiedade, por exemplo: falar da sexualidade do adulto, caluniar pessoas, fazer fofocas, mentir, fazer apologia a drogas, álcool ou cigarros, brigas do casal, acusações, agressões físicas ou verbais, etc.
Outro assunto importantíssimo refere-se ao segredo na família, por exemplo:
A) quando pais adotam uma criança e não comentam com o filho adotado a respeito da sua adoção;
B) quando o pai ou a mãe abandonaram seus filhos em função da separação do casal, muitas famílias dizem à criança que eles morreram;
C) quando diante da morte real de pais ou irmãos, a família esconde fotos , objetos pessoais e ninguém fala mais nada a respeito, a criança acaba sentindo um vazio muito grande, porque o luto não pode ser elaborado;
D) em outras situações , agem como se o falecido ainda estivesse vivo, deixando um lugar à mesa ou dizendo que ele foi fazer uma viagem e logo volta, etc.
Certas questões não são ditas, mas, de forma inconsciente, são passadas para a criança ; então, a criança tem uma percepção da realidade, mas ela não acredita nesta percepção porque a verdade não é validada pelos adultos. Este é um fator patogênico, isto é, a criança acaba tornando-se insegura e não confiando nos adultos que cuidam dela, porque estes adultos não dizem a verdade. Todas estas situações acima citadas ,são geradoras de problemas emocionais que mais tarde merecerão cuidados de profissional especializado.
Criando vínculos através da linguagem
O primeiro vínculo estabelecido entre a mãe e o bebê é o vínculo físico, formado pelo cordão umbilical, para a passagem dos nutrientes que a criança necessita para manter-se viva e saudável. Após o nascimento, dia após dia, vai sendo estruturado o segundo vinculo, o vínculo emocional . Este vínculo é formado à princípio pelo toque, olhar e voz da mãe , para depois transferir-se ao pai e mais tarde nas relações interpessoais, fortalecido pela linguagem, conversação e diálogo.
É por meio desta comunicação que se transmite confiança e segurança nas relações afetivas, primeiramente dentro da família e posteriormente por toda a rede social. A forma como a criança irá interagir socialmente dependerá da qualidade de apego e de afeto que os pais tiveram com ele, possibilitando, desta forma, que ele se torne uma pessoa segura, com uma boa auto-estima ou, ao contrario, ansiosa, fria e distante no contato interpessoal.
Para que a comunicação seja estabelecida, é necessário que se dispense um mínimo de tempo possível ao convívio com os filhos. Estes são momentos preciosos que devem ocorrer informalmente, seja através de jogos, contando histórias, assistindo a um filme, conversando para saber como foi o dia, fazendo alguma atividade conjunta, rindo juntos, etc.
Alinhando o discurso à prática
Além disso tudo, é necessário também dizer à criança, claramente, o que se espera dela e
passar as orientações objetivamente. Deve haver uma coerência entre o discurso e a prática. A
linguagem deve ser clara evitando-se a linguagem que tenha duplo sentido, por exemplo:
– dizer ao filho que ele precisa fazer dieta, mas trazer chocolate ao chegar em casa;
– dizer ao filho que é preciso fazer economia e, quando vai às compras, trazer uma porção de coisas supérfluas;
– repreender o filho e colocá-lo de castigo dizendo que a semana toda não assistirá à televisão, mas no momento seguinte convidá-lo para assistir a um desenho.
Da mesma forma, quando o pai repreende o filho e a mãe contraria esta repreensão ou vice-versa. Estes são exemplos de atitudes improdutivas que podem, inclusive, levar as crianças à distorção da realidade.
Estes comportamentos deixam a criança confusa porque são mensagens que têm duplo significado. Para o estudioso Gregory Bateson , a dupla mensagem significa que uma das mensagens modifica o alcance psicológico da outra. Cada uma das mensagens torna a outra, ao mesmo tempo, falsa e verdadeira. É impossível saber qual determina prêmio e qual determina castigo. Quem emite uma mensagem com duplo significado também está confuso, mostrando desta forma o caos interno deste adulto.
Quantidade versus qualidade
Outro fator importante é a relação entre a quantidade e a qualidade do tempo dispensado ao filho. Às vezes pai e mãe estão em casa, mas existem poucas trocas de afeto ou pouca atenção, a comunicação é restrita. A criança vem falar algo, mas o pai ou a mãe dizem: “Agora não, estou lendo o jornal”. A criança não pode esperar, ela precisa falar naquele momento.
Todos sabemos que infelizmente hoje, com a correria do dia-a-dia, é difícil administrar o
tempo. Contudo, é necessário que o pai ou a mãe trabalhem menos tempo fora de casa, pois a
criança, quando não está na escola ou na creche, via de regra fica sozinha ou assessorada pela
empregada, na companhia da televisão ou da internet, sem ter alguém que a oriente.
Outras vezes, a criança tem tantas atividades fora do lar – para que seu tempo seja “preenchido” – que ela acaba ficando estressada com tantos compromissos, numa idade em que ainda precisa ter momentos livres para simplesmente não fazer nada. A este fato chamamos de terceirização da educação do filho. A educação do filho acaba ficando a cargo de outras pessoas.
Poderíamos comparar a criança que acaba de nascer a um livro com páginas em branco, nas quais os pais escreverão a história de vida junto com ela, até a adolescência. A partir daí, e durante toda a sua vida, o filho caminhará por ele próprio, com valores herdados pela família ou adquiridos através da educação recebida.
Este “livro”, que até então nasceu em branco, será preenchido pelos pais, através da linguagem e
atitudes, com orientação de vida, transmissão de valores, passagem da cultura e da história de vida familiar. Se estas questões tão importantes não forem preenchidas pelos pais, certamente ocorrerá uma lacuna que possivelmente será preenchida por qualquer um na adolescência. Você gostaria que qualquer um escrevesse o que quisesse nas “páginas do livro” mais importante de sua vida?
É necessário que se faça ao menos uma refeição diária junto com o filho, pois esse é um momento
propício à comunicação. O contato físico também é de extrema importância. Abraçar, brincar de luta, acariciar o filho são também formas de comunicação.
Se os pais não tiverem tempo durante a semana, é fundamental que nos finais de semana procurem fazer uma atividade conjunta, como por exemplo, ir às compras, jogar, assistir a um filme, rir com ele. Tudo isso também representam formas diferentes de comunicação.
Muitas vezes os pais sentem dificuldades em brincar com os filhos por medo de perder a autoridade, o respeito; contudo, o brincar é parte integrante da educação, pois assim os pais poderão ser vistos não apenas como aqueles que impõem normas, mas que também podem deixar um pouco de lado sua autoridade, se “desarmar”, relaxar e mostrar-se um pouco crianças. Desta forma, o respeito e o afeto andarão de mãos dadas, e como resultado, uma vinculação maior com o filho.
Momento de reflexão
● Você faz pelo menos uma refeição diária com seu filho?
● Você costuma brincar com seu filho?
● Quantas vezes na semana você riu com ele?
● Quantas vezes o auxiliou nas lições de casa durante a semana?
● Quantas vezes o convidou para realizar uma atividade conjunta?
● Quantas vezes você o abraçou e disse que o amava durante a semana?
● Você consegue avaliar qual tipo de apego tem com seu filho?
● Você está comprometido com seu filho?
● Qual a quantidade e qualidade de tempo que você dispensa ao seu filho durante a semana?
E.. Mãos à obra!
Jogar bola, ou ler um livro de histórias, assistir a filmes, fazer algo na cozinha, arrumar a mesa, preparar um lanche, dar banho no cachorro, caminhar, jogar cartas, mexer na terra,contar algo engraçado que aconteceu, plantar uma flor, construir ou consertar um brinquedo, falar de sua própria infância.
Estas atividades, além de contribuir para o desenvolvimento da comunicação e do diálogo, ainda auxiliam no entendimento do respeito às normas e regras, desenvolvem a imaginação e a criatividade, as habilidades sensório-motoras, melhoram a inter relação e consciência individual e social, além de despertarem um profundo sentimento de prazer e satisfação às crianças e aos pais ao recordarem sua própria infância.
Sugestões de bibliografia
O brincar e a criança do nascimento aos 6 anos- Vera Barros Oliveira (org) – Editora Petrópolis.
Por que estou assim – Os momentos difíceis da adolescência, de Cybelle Weinberg – Sá Editora.
Interacion Familiar – Gregory Bateson Criando Meninos, de Steve Biddulph – Editora Fundamento.
Criando Meninas, de Gisele Preuschoff – Editora Fundamento.
Coleção de livros – Compreendendo seu Filho- Clínica de Tavistock de Londres.Ed. Imago
Tudo é linguagem- Françoise Dolto Editora Martins Fontes
Sugestões de filmes
O Rei Leão
Segredos de Família
A Vida é Bela
* Jadete Calixto é psicoterapeuta, especializada em Terapia de Casal e Família.
http://www.clicfilhos.com.br/ler/971-O_poder_da_comunica%C3%A7%C3%A3o_entre_pais_e_filhos